mentira pública

29-10-2024

Nos últimos anos, com a crescente mediatização da política tem sido possível observar o crescimento da dispersão de notícias não verídicas, que se torna possível através do rápido crescimento das redes sociais e o poder que estas exercem na vida das pessoas. É através de redes sociais que se propagam mais rapidamente este tipo de notícias sendo o Twitter (atualmente X) a que se demonstra mais propícia pelo seu modelo de publicações com autores muitas vezes desconhecidos. O Instagram é também uma plataforma que promove a visualização de notícias falsas em conjunto com o Facebook, mas a dispersão destas é mais lenta. Por outro lado, o crescimento do Tiktok na camada mais jovem faz com que esta rede social represente atualmente a principal fonte de informação para alguns dos seus utilizadores. Tudo isto, em conjunto com uma inerente falta de aprofundamento e comprovação de informação, cria um panorama mundial muito propício à rápida propagação de informação falsa – aquilo a que comummente se chama "fake news".

Ao observar a proliferação de notícias falsas é possível entender que as "fake news" que se espalham mais intensamente são notícias sobre política. Notícias relativas a ciência, assuntos sociais e económicos ou mesmo desastres naturais e terrorismo propagam-se muito mais lentamente. (Soroush Vosoughi, 2018)

É possível atribuir a este fenómeno uma ideia que nos últimos tempos tem tido cada vez mais defensores, passando de teoria conspiratória a possibilidade muito forte na cabeça do público – a falta de transparência na política e os casos de corrupção que cada vez se conhecem melhor levam o público a acreditar que tudo é possível e, assim nenhuma notícia se torna obviamente falsa. Cresce o sentimento que não só os órgãos governamentais nos mentem, mas que a imprensa é conivente com esta mentira. William Blum, no livro Rogue State: A Guide to the World's only Superpower faz transparecer muito bem esta ideia: "No matter how paranoid or conspiracy minded you are, what the government is actually doing is worse than you imagine". A ideia de que a mentira é uma arma contra a população criou no público o impulso de valorizar mais noticias dadas por indivíduos que se autorrepresentam como independentes (e que muitas vezes se alinham mais com ideias prévias do leitor) do que notícias dadas por órgãos de comunicação.

Neste panorama nasce a arma política da verdade e mentira como estratégia. A verdade toma o lugar de debates e a mentira toma o lugar de ideias e investigação. Nascem inúmeros fact-checkers, a verificação dos factos passa a ocupar quase tanto tempo como a investigação da notícia. A verdade passa a ser inconstante sendo que antes era considerada algo crucial para a humanidade. A resposta que o ser humano tem à informação é assim perturbada pela dispersão da mentira. (Soroush Vosoughi, 2018)

Surge também o fenómeno do preconceito da confirmação (confirmation bias), na esfera política uma notícia falsa pode por vezes ser verdade e vice-versa se se enquadram na agenda política de quem a lê.

O termo "fake-news" é utilizado para referir informação que é criada com intuito de enganar e o termo notícia falsa é usado no caso de notícias que simplesmente não são verdade, seja por descuido ou engano (Vziatysheva, 2020).

Qualquer dos conceitos antes referidos é um ato de desinformação e, no mundo atual a desinformação tornou-se uma indústria com consequências políticas, sociais e económicas.

A propagação de desinformação é um claro ataque ao direito de informação da população.

Referências

Soroush Vosoughi, D. R. (2018). The spread of true and false news online.Science 359.

Vziatysheva, V. (2020). How Fake News Spreads Online?(Issue 2 ed., Vol. 5). International Journal of Media & Information Literacy.

jornal ingovernável
Branca Cid
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