o lado ilegal da verdade
O termo whistleblower refere-se a qualquer indivíduo que denuncie atividades ilegais ou imorais praticadas por alguma figura pública ou organização com poder ou influência na população geral. Muitas vezes um whistleblower procura que a informação que pretende partilhar chegue ao maior número de pessoas possível, deste modo, os media são um órgão comummente utilizado nesta procura pela disseminação da verdade.
A exposição de crimes praticados por indivíduos e entidades poderosas representa um perigo para o dissidente e para qualquer que partilhe a informação como se pode observar no caso de Snowden ou Julian Assange que foram perseguidos pelo poder político com pretextos de ilegalidades cometidas no ato da exposição da verdade.
Whistleblowers e hackers são fontes recorrentes na investigação jornalística, e esta procura pela transparência e liberdade da imprensa são muito importantes para conseguir um futuro em que o poder não pode censurar a disseminação da verdade. (Maria A. Moore, 2014)
É através do jornalismo que cresce a possibilidade de denunciar corrupção e fraudes. A democratização da informação representa um desafio à manutenção dos sistemas que visam apoiar a criminalidade do poder instaurado. Bob Woodward e Carl Bernstein (dois jornalistas que investigaram e publicaram o caso Watergate, que levou à demissão do presidente Nixon dos EUA, podendo considerar-se pioneiro na utilização de whistleblowers no jornalismo de investigação) são um exemplo que caracteriza muito bem o poder que a investigação jornalística tem nesta forma de manter, elevar e fazer pública a verdade. A presença eminente desta classe de jornalistas deveria forçar a responsabilização dos indivíduos e entidades no poder (watchdog journalism).
As linhas que hoje separam os hackers e whistleblowers são ténues. O hacking como forma de ativismo (hacktivism) tem vindo a crescer substancialmente no seguimento de grupos como o Anonymous ou casos como o WikiLeaks (Julian Assange) e Edward Snowden (hipervigilância governamental) e em Portugal o caso de Rui Pinto – os famosos Megaleaks. (Salvo, 2017)
Estes avanços no Universo do jornalismo de investigação construíram uma "forma híbrida de reportagem" (Salvo, 2017) em que se introduzem métodos da comunidade de hacking como a utilização da darkweb como fonte de informação, a utilização de sistemas avançados de encriptação como forma de proteger o anonimato das fontes e a investigação. (Elisabeth Eide, 2018)
Quando surgem processos de whistleblowing os autores procuram o apoio da imprensa para disseminação e publicação da verdade.
Todos estes acontecimentos, muitas vezes referidos pelo termo megaleaks, pela sua forte intenção ativista, acabam por ter um teor político carregado e muitas vezes são consideradas ações anti-governamentais, sendo, por isso, os autores perseguidos e procurados por diversos governos e organizações governamentais. Deste modo, estes processos influenciaram o crescimento da vigilância e controlo no espaço da internet. É possível existir uma relação entre o crescimento da hipervigilância e os novos métodos de ciberproteção utilizados. A influência da filosofia dos hackers na posição adotada pelos jornalistas depois desta intensa convivência é notável na proteção da intenção do repórter, como investigador, não ser influenciado pelo poder que procura denunciar. (Salvo P. D., 2021)
A junção de whistleblowing e hacking ao jornalismo de investigação fez da procura pela verdade, que sempre foi para além de um bem público, um pilar do jornalismo, algo muito mais fácil por terem sido derrubadas inúmeras barreiras, nomeadamente a influência que autores externos poderiam ter na supressão e censura da verdade.
A primeira peça do dominó que é a criminalidade política terá sido derrubada quando se juntaram tantos indivíduos na procura e defesa da verdade.
Referências
Elisabeth Eide, R. K. (2018). Whistleblowers and journalistic ideals: Surveillance, Snowden ant the meta-coverage of journalism(Vols. 16, Issue 1). Oslo: Northern Lights: Film &Media Studies Yearbook. doi:https://doi.org/10.1386/nl.16.1.75_1
Maria A. Moore, J. H. (2014). Whistleblower as news source: A complex relationshio examined through aa survey of journalists' attitudes(Vols. 3, issue 3). Illinois, USA: Journal of Applied Journalism & Media Studies. doi:https://doi.org/10.1386/ajms.3.3.355_1
Salvo, P. d. (February de 2017). Limn. Obtido de limn.it: https://limn.it/articles/hackingjournalism/
Salvo, P. D. (2021). Securing Whistleblowing in the Digital Age: SecureDRop and the Changing Journalistic Practices for Source Protection(Vol. 9). Lugano, Switzerland: Institute of Media and Journalism, Università della Svizzera Italiana.