o perigo da verdade

05-11-2024

Em maio de 2022, o assassinato de Shireen Abu Akleh, jornalista da companhia de imprensa Al Jazeera, durante os conflitos Israel- Palestina gerou um intenso debate em torno da segurança dos Jornalistas e a violência que estes sofrem no decorrer das suas funções.

A correspondência de jornalistas em locais de conflitos armado é uma das mais perigosas formas de jornalismo. Distingue-se de outras também bastante perigosas, como o jornalismo de investigação, já que no caso da reportagem de guerra o jornalista não está apenas sob o perigo de violência que lhe possa ser infligida diretamente, mas corre o perigo de ser uma casualidade colateral de guerra.

Em 2022, a Universidade de Oxford declarou o México como sendo o país mais perigoso para jornalistas. (Kahn, 2023) Apesar deste país não se encontrar em conflito ativo é notoriamente conhecido pela criminalidade. Deste modo, o elevado número de jornalistas assassinados no México e violência realizada contra esta profissão (que acaba na grande maioria sem condenações) faz deste país não só perigoso, mas também condiciona a verdade à violência e ao crime (através de censura, coação e ameaças).

Recentemente a invasão da Ucrânia e os crimes contra a imprensa levados a cabo pelas forças militares russas, fez da Rússia o país responsável pelo maior número de jornalistas mortos na Europa e a Ucrânia, o país mais perigoso para os correspondentes de guerra nos últimos anos. (Berry, 2022)

O país que tem o maior número de jornalistas encarcerados é a China. (Love, 2021) Um jornalista (ou alguém que trabalhe em órgãos de comunicação) está também sujeito a presenciar direta ou indiretamente atos de extrema violência que podem originar problemas do foro psicológico. De acordo com a IWMF (International Women's Media Foundation) as jornalistas mulheres são um alvo mais vulnerável à violência psicológica (como bullying) e violência sexual (como assédio e violação).

Os jornalistas contam com um tipo de imunidade especial em zonas de conflito armado, mas apenas quando não interferem no conflito diretamente, quando não participam em atividades militares nem são utlizados para instigar crimes de guerra e outros atos violentos. (Balguygallois, 2004)

Existem diversas plataformas que visam trazer luz a violência que os jornalistas encaram no decorrer das suas profissões como a Safety of Journalists Platform (https://fom.coe.int/en/accueil ) e o Observatory of Killed Journalists (https://www.unesco.org/en/safety-journalists/observatory/grid ). O OKJ dispõe de uma lista completa dos jornalistas assassinados desde 1993, e da reação que cada país teve perante esta investigação, da qual podemos discernir a posição tomada pelos diferentes governos neste tópico. Estes dados são obtidos atravésdo Director-General's Report on the Safety of Journalists and the Danger of Impunity.(UNESCO, Director-General's report on the safety of journalists and the danger of impunity, 2020) Todo o estudo e pesquisa realizado pela Unesco neste tema tem como pilar a resolução número 29 da Conferência Geral de Paris. (UNESCO, 1997)

O jornalismo é um pilar da sociedade e da democracia, pela sua intenção de fazer chegar a verdade ao público geral e, por isso, uma ameaça contra a integridade do jornalismo é uma ameaça à liberdade de expressão e discurso. O jornalista é um representante da liberdade de expressão e, consequentemente da democracia, tendo uma importância extrema na defesa e manutenção de um estado de direito. Deste modo, a violência contra os media é uma forma de silenciar a verdade. A ação governamental que impede a ação jornalística é um atentado à liberdade da população.

Referências

Balguygallois, A. (2004). Protection of Journalists and Media Professionals in Time of Armed Conflict(Vol. 86).

Berry, A. (2022). Number of journalists killed up to 40% in 2022, says NGO.Obtido de https://www.dw.com/en/number-of-journalists-killed-up-40-in-2022-says-ngo/a-64045240

Kahn, G. (2023). The most dangerous place to be a journalist is not an active war zone but Latin America.Reuters Institute.

Love, K. (2021). The 10 most urgent cases of journalist murders awaiting justice, as UN observes International Day to End Impunity.Forbes.

UNESCO. (1997). Resolution 29 -Condemnation of violence against journalists.Paris.

UNESCO. (2020). Director-General's report on the safety of journalists and the danger of impunity(Vol. 32nd). Paris: Intergovernmental Council of the International Programme for the Development of Communication.

jornal ingovernável
Branca Cid
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